Por Marco Farani*
No momento atual, o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob coordenação do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, consolida uma política externa que privilegia uma pluralidade de novos interlocutores. Ao contrário do alinhamento semi-automático com a grande potência norte-americana, característico dos últimos governos, a política atual contribui para a abertura de novos mercados para nossos produtos. Desse modo, faz-se fundamental a presença de uma política cultural ativa no exterior, por parte do Itamaraty, que ajude o país a se fazer mais conhecido por seus novos parceiros. A política cultural deve ser, cada vez mais, um instrumento de apoio à nossa política externa, e, nesse contexto, o cinema, pelas mencionadas características, é o produto cultural mais bem talhado para desempenhar este papel.
O cinema brasileiro conheceu, no decorrer do século XX, várias fases, ou surtos de crescimento, em seu esforço para industrializar-se, objetivo infelizmente ainda não alcançado. Ao se apontar a importância política do cinema, deseja-se demonstrar que um cinema brasileiro forte, social e politicamente relevante deve ser ambicionado e precisa ser alcançado. Para tanto, faz-se necessária uma ação coordenada por parte do Estado, que deve ir além dos mecanismos atualmente existentes, como as leis de incentivo, e da qual o Itamaraty não pode estar ausente.
O Ministério das Relações Exteriores tem uma função estratégica a cumprir nesta importante tarefa. O Itamaraty pode e deve se empenhar mais do que já vem fazendo na promoção de nosso cinema no exterior. Promover o cinema brasileiro significa levar nossa língua, nossos costumes, nossos valores, nossa arquitetura, nossa riqueza natural e humana ao exterior, fazer-nos conhecer melhor, romper com os estereótipos que outros povos porventura possam ter do Brasil. Promover nosso cinema, com o potencial de informações que ele comporta, significa promover e afirmar o Brasil e sua cultura, em seu sentido mais amplo, no mundo.
Com sua extensa rede de representações no exterior, com os setores culturais das Embaixadas e Consulados e os centros de estudos, além de missões junto aos organismos multilaterais, o Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores acumulou experiência na promoção da cultura brasileira no exterior, o que o habilita perfeitamente a impulsionar e apoiar a internacionalização do cinema brasileiro.
Para dar suporte a esse processo de abertura que vem incorporando novos interlocutores, a diplomacia cultural faz-se fortemente necessária. Ela representa o elemento não só capaz de pavimentar os caminhos do diálogo político, mas sobretudo de facilitar o melhor entendimento e conhecimento entre parceiros. A política cultural tem o poder de aproximar nações, contribuindo para reduzir tensões e, sem dúvida, revitalizar relações diplomáticas entre os países.
No campo específico do cinema, que é o objeto desta apresentação, pode-se afirmar que o Ministério das Relações Exteriores já está tomando importantes providências. Há pouco mais de um ano, foi criada a Divisão do Audiovisual (DAV), com o objetivo de promover, acompanhar e coordenar iniciativas brasileiras no campo do audiovisual no exterior. A DAV também se ocupa de apoiar a participação brasileira em festivais internacionais de cinema. Além disso, a Divisão tem tomado suas próprias iniciativas nesse campo, organizando, com grande sucesso, Semanas de Cinema Brasileiro no exterior. Logo após a criação da DAV, o Departamento Cultural tratou de revitalizar um grupo de trabalho, criado em 2003, com a participação da SAV (Minc) e da Ancine, com o objetivo de coordenar as ações governamentais no exterior e otimizar as iniciativas, além de ordenar e melhor atender as demandas do setor.
Por fim, vale lembrar que não somente no campo do cinema, mas da economia em geral, o Brasil precisa urgentemente internacionalizar-se, com vistas a romper definitivamente com o isolamento em que se encontrava, resultado de anos de inflação e de estagnação econômica. Com o alcance da almejada estabilidade da economia, fruto de um trabalho rigoroso do Banco Central, apoiado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acertadamente apostou em medidas ortodoxas na condução de nossa economia, o país começou recentemente a conquistar mercado internacional para seus produtos e a interagir mais intensamente com outras economias, ampliando seu comércio internacional. Neste momento, é preciso que o governo brasileiro invista ainda mais recursos e energia criativa no apoio à cultura brasileira no exterior. Faz-se necessária maior presença cultural brasileira em países que tradicionalmente já são nossos interlocutores econômicos, assim como naqueles que se transformaram recentemente em importantes parceiros comerciais do Brasil.
O fortalecimento do cinema brasileiro no exterior, resultado de uma política diplomática eficaz, não somente é possível como pode vir a representar importante capital político para o país. Não se pode esquecer que a globalização constitui excelente oportunidade para se conduzir uma política que resulte em maior inserção da cultura brasileira no plano internacional.
*Diplomata (Itamaraty – Agência Brasileira de Cooperação)