“Nave Errante”, publicação da Secretaria de Estado de Cultura de Belo Horizonte lançou um Suplemento com reflexões sobre o “Jornalismo Cultural”, organizado por Fabrício Marques.
Flagrado em momento de transição para uma nova etapa da comunicação social – a Era Digital –, o jornalismo especializado em cultura do século 21 se equilibra entre referências da cultura de massa e da cultura de convergência. Como observa o jornalista Israel do Vale, “movendo-se em várias direções, a nova ordem digital implodiu o modelo unidirecional que mediou a circulação da informação ao longo do século 20”. Nesse contexto, cabe perguntar: para onde está indo esse tipo de jornalismo? Os textos aqui reunidos procuram dar conta de algumas das infinitas discussões que tal questão suscita. Vamos a elas.
Em qual território o jornalismo cultural (cada vez menos jornalismo e menos cultural) pode encontrar o espaço de sua legitimação? J. S. Faro oferece uma resposta e um modo de entender esse questionamento.
O que pauta o jornalismo cultural contemporâneo? Geane Alzamora procura observar como as informações culturais circulam hoje, sob quais escopos editoriais e conforme quais processos produtivos, “para nos arriscarmos a tecer considerações acerca de seu significado na contemporaneidade e, mais especificamente, acerca do que ele pauta – ou deveria pautar”.
Em nome de que gosto o jornalista cultural está falando? E em nome do quê ele acredita ter a missão de ‘determinar’ o gosto de uma pessoa?”, questiona o professor Teixeira Coelho, tradutor, no Brasil, de O Gosto, de Montesquieu (1689-1755). Coelho conversou com o jornalista Duda Fonseca, partindo do conceito de que o jornalismo cultural “vende” um determinado padrão de gosto para os leitores.
Que lugar os cuidados estéticos com um texto jornalístico – vale dizer, o jornalismo literário – ocupam na produção desse jornalismo sob a rubrica “cultura”? Ao escrever a respeito dos diálogos entre as linguagens jornalística e literária, Humberto Werneck chama a atenção para a importância do literary journalism como valiosa estratégia para seduzir o leitor, atraindo-o para a leitura. A aproximação entre jornalistas e escritores, aliás, norteia O desatino da rapaziada, livro do próprio Werneck que está ganhando reedição, 20 anos depois de seu lançamento. Na avaliação de José Castello, na resenha sobre o livro, “Werneck faz um inventário de uma geração fabulosa de escritores que, no meio século que vai de 1920 a 1970, agitou a vida de Belo Horizonte”.
O pesquisador Sérgio Luiz Gadini busca responder as seguintes questões: qual a relação entre o modelo hegemônico do jornalismo cultural brasileiro com a gradual queda de tiragem dos diários impressos do País? Quais as principais características editoriais desse jornalismo praticado nos diários impressos brasileiros? Como tais editorias se estruturam?
Para além dessas questões, propõe-se duas possíveis respostas para a produção atual do jornalismo dedicado à cultura. Assim, apesar de raros, novos conceitos editoriais podem surgir desse estado de coisas, e dois deles foram selecionados para este número. Um é apresentado pela jornalista Maria Rita Reis: trata-se do San Francisco Panorama, um projeto pessoal do escritor Dave Eggers, um jornal em formato standard, com uma única edição de 320 páginas repletas de conteúdo original.
Outro é a seLecT, que, produzida em variados suportes (impresso, tablet e internet), elege como temas a convergência entre as artes visuais, a tecnologia, o design e o comportamento. Convidamos Paula Alzugaray, Giselle Beiguelman e Juliana Monachesi, da equipe do projeto, para falar sobre a iniciativa.
Abrem e fecham este especial duas entrevistas de fôlego, uma com o jornalista Sérgio Augusto e outra com o ensaísta e escritor Silviano Santiago. Os olhares privilegiados de ambos ajudam a entender aspectos importantes do que se passa com o jornalismo e com a cultura na contemporaneidade.
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Publicado Originalmente em Nave Errante
Publicação da Secretaria de Estado da Cultura de Belo Horizonte
Edição Especial, 2012