Batuqueiros da Paulicéia

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Os shows Batuqueiros da Paulicéia, que aconteceram de 7 a 10 de maio de 2009 na Chopperia do Sesc-Pompéia, foram concebidos pelo Instituto Iniciativa Cultural e contaram com um público de 1.300 pessoas. Osvaldinho da Cuíca, juntamente com diversos convidados, mostraram a qualidade do Samba de São Paulo. Após os shows, houve o lançamento do livro “Batuqueiros da Paulicéia”, também apoiado pelo Instituto Iniciativa Cultural.

Uma frase infeliz de Vinícius de Moraes, a famosa “São Paulo é o túmulo do samba!”, fez cristalizar-se um antigo preconceito contra o samba paulista. Os trabalhos de grandes sambistas de São Paulo, como Henricão, Geraldo Filme, Adoniran Barbosa e Toquinho (o mais prolífico parceiro do poeta), sempre foram lembrados como casos que desmentiam tal injustiça, mas uma defesa do samba de São Paulo, como um todo, dificilmente passou de um esboço. Até porque, em boa medida, os próprios paulistas não conhecem bem a sua grandeza. Daí o impulso do sambista Osvaldinho da Cuíca e do crítico e pesquisador André Domingues – sócio fundador do Instituto – se unirem para sistematizar e escrever a história do samba paulista no livro “Batuqueiros da Paulicéia – Enredos do Samba de São Paulo” (Editora Barcarolla).

A obra segue as diversas trilhas do samba de São Paulo, apontando seus nomes e acontecimentos fundamentais desde o início do século XX até o presente, do remoto samba-rural ao “samba-de-raiz” de hoje em dia, passando, ainda, por diversas manifestações como a marcha-sambada, a batucada de engraxates, o samba-rock e as experiências da chamada Vanguarda Paulistana.

Nos shows de lançamento, o mestre Osvaldinho mostrou o repertório descrito em Batuqueiros da Paulicéia, relembrando músicas de antigos carnavais paulistanos, sambas de rua, sambas-rurais e sucessos de sambistas importantes da nossa história, como Henricão, Geraldo Filme, Adoniran Barbosa e ele próprio, um artífice muito privilegiado dessa história, com seus 51 anos de carreira.

Além dos sucessos, as apresentações trouxeram obras raras, lembradas, apenas, por Osvaldinho e uns poucos veteranos da Paulicéia, a exemplo dos versos das rodas de tiririca (uma espécie de capoeira sambada de São Paulo) e do gaiato samba “A Emissora Victor Costa”, que o lendário malandro Joãozinho Boa Pinta costumava cantar nos programas de calouros da Rádio Victor Costa.

Um ponto alto dos shows Batuqueiros da Paulicéia foi a presença de convidados especiais, escolhidos entre as personalidades citadas no livro, indo do consagrado Germano Mathias, verdadeiro clássico do samba paulista, à geração renovadora de Fabiana Cozza e dos meninos do Quinteto em Branco e Preto, passando, ainda, pelo samba refinado de Celso Viáfora e Wandi Doratiotto e pelo samba-rock suingado de Bebeto e do Clube do Balanço. Os espetáculos também abraçaram o samba mais puro, comunitário, feito nas escolas de samba e nos terreiros, recebendo o veterano Seu Carlão do Peruche, fundador da Unidos do Peruche, o grupo Samba de Roda de Pirapora, representante da capital do samba-rural paulista, Pirapora do Bom Jesus, além, é claro, de amigos que Osvaldinho fez ao longo de sua bonita história na Vai-Vai. Entre eles estiveram os compositores Paquera e Chapinha, também co-fundadores do projeto Samba da Vela, dedicado a revigorar o samba tradicional na Zona Sul paulistana, e o célebre puxador (e atual presidente da escola) Thobias da Vai-Vai. Os shows de quinta e sábado tiveram como apresentador o cantor, compositor e multi-instrumentista Wandi Doratiotto; enquanto os de sexta e domingo foram apresentados pela cantora Fabiana Cozza. A direção artística e o roteiro ficaram a cargo de André Domingues, parceiro de escrita do sambista no livro.

Duas oficinas complementam e aprofundam os conteúdos do livro Batuqueiros da Paulicéia e dos shows: “Memória Fonográfica do Samba Paulista”, de dois encontros de 2h de duração, ministrada por André Domingues, que se concentra em audições comentadas de gravações antológicas do samba de São Paulo e “Batucadas da Paulicéia”, ministrada pelo próprio Osvaldinho da Cuíca, que convida os participantes a explorarem o sotaque musical paulista a aprenderem os segredos de samba-de-bumbo, marcha-sambada, batuque de engraxates e tiririca.

Programação

Dia 07/05

Celso Viáfora
Quinteto em Branco e Preto
Apresentação: Wandi Doratiotto

Dia 08/05

Bebeto
Amigos do Vai-Vai (Thobias da Vai-Vai, Paqüera e Chapinha)
Apresentação: Fabiana Cozza

Dia 09/05

Germano Mathias
Samba de Roda de Pirapora
Apresentação: Wandi Doratiotto

Dia 10/05

Seu Carlão do Peruche
Clube do Balanço
Apresentação: Fabiana Cozza

OFICINAS:

Memória Fonográfica do Samba Paulista – por André Domingues
Dias 09/05, das 13h às 15h,  e 10/05, das 11h às 13h.

Batucadas da Paulicéia – por Osvaldinho da Cuíca
Dia 09/05, das 15h30 às 17h30.

Artistas Participantes

OSVALDINHO DA CUÍCA

Sambista, ritmista, passista, cantor e compositor, Osvaldinho da Cuíca representa uma arte popular que transita entre a tradição e a contemporaneidade, circulando com a mesma desenvoltura nos palcos de teatros sofisticados ou nos popularíssimos desfiles carnavalescos da sua Vai-Vai. Ao longo de 51 anos de carreira, atuou em programas de rádio, televisão, gravações, shows e festivais, apresentando um valioso trabalho autoral e tocando com grandes artistas brasileiros, como Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Adoniran Barbosa, Geraldo Filme, Germano Mathias, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Cartola, Zé Keti, Nelson Sargento, Elton Medeiros, Clementina de Jesus, Beth Carvalho, D. Ivone Lara, Toquinho e Vinícius de Moraes, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, João Nogueira, Zeca Pagodinho, Lecy Brandão e Eduardo Gudin. Aliado à sua reconhecida atuação de compositor e instrumentista, o vigoroso empenho no resgate, preservação e difusão do samba de São Paulo, repercutiram na conquista do título então inédito de “Embaixador Nato do Samba Paulista”, concedido pela União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP).

WANDI DORATIOTTO

Wandi Doratiotto, músico, cantor e compositor, nasceu em São Paulo. Integrante do célebre grupo Premeditando o Breque desde 1976 – com oito discos gravados, com apresentações em todo o Brasil -, fez parte da geração revelada no final dos anos 70 e conhecida como Vanguarda Paulistana. Também possui trabalho solo, tendo lançado um disco lançado, o elogiado “Pronto”, de 2002. Paralelamente à carreira musical, trabalha na TV Cultura de São Paulo como ator, nos programas infanto-juvenis Ra-Tim-Bum e X-Tudo, e como apresentador do programa Bem Brasil (desde a sua estréia, em 1991).

FABIANA COZZA

Fabiana Cozza, cantora e atriz , começou sua carreira em 1996 no grupo vocal “Novella” coordenado pela cantora Jane Duboc. Em 1998 gravou no CD “Pra tirar o chapéu” de Eduardo Gudin, com quem se apresentou em shows ao lado de Ivan Lins, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Leila Pinheiro, Hermeto Paschoal, Chico César. Recentemente tem se apresentado ao lado de artistas como João Bosco, o grupo instrumental Zimbo Trio, Nei Lopes, D. Ivone Lara, Almir Guineto entre outros.

GERMANO MATHIAS

Germano Mathias, cantor e compositor paulistano, começou sua carreira musical na década de 50, lançando sucessos como “Minha nega na janela”, “Guarde a Sandália Dela” e “Lata de Graxa”. O que primeiro chamou a atenção do público foi seu jeito peculiar de interpretar os sambas, sempre com um fraseado rítmico surpreendente e tocando uma tampinha de uma lata de graxa, herança dos engraxates da Praça da Sé, com quem conviveu na adolescência. Hoje, Germano é, sem dúvida, o maior representante vivo do samba-sincopado brasileiro.

QUINTETO EM BRANCO E PRETO

O Quinteto em Branco e Preto, grupo paulistano, foi formado em 1997 na zona sul de São Paulo pelos irmãos Maurílio e Magno e os também irmãos trio Everson, Victor e Yvison Pessoa. Tendo como objetivo preservar o samba tradicional, tornou-se o maior símbolo da renovação do samba paulista e acompanhou bambas como Nei Lopes, D. Ivone Lara, Jorge Aragão, Jamelão, João Nogueira, Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros, além, claro, de Beth Carvalho, sua madrinha artística. Tem 2 CDs lançados: Riqueza do Brasil e Sentimento Popular. Os integrantes do grupo ainda fazem parte da Comunidade Samba da Vela, formada em 2000, em Santo Amaro, zona sua de São Paulo, com o objetivo de promover novos compositores do samba tradicional.

THOBIAS DA VAI-VAI

Thobias da Vai-Vai, cantor e compositor paulistano, começou sua caminhada defendendo o samba-enredo do então bloco carnavalesco “Gaviões da Fiel” em 83 e 84. Nesta época Thobias já fazia parte da ala de compositores da Vai-Vai, passando, em 84, a ser o intérprete oficial da escola. Defendendo sua Vai-Vai (da qual, hoje, é o presidente), foi campeão em 81, 82, 86, 87, 88, 93, 96, 98, 99, 00, 01, e recebeu 6 títulos de Melhor Puxador (Intérprete) de samba de São Paulo. Graças à repercussão nos carnavais também gravou discos e realizou shows por todo o Brasil.

BEBETO

Bebeto, cantor e compositor paulistano, foi um dos divulgadores do sambalanço – ou samba-rock, se preferirem – nos anos 70. Começou sua carreira em sua terra natal, fazendo pequenos shows, mas já em 1975 lançou seu disco de estréia, “Bebeto”. A partir de então, colecionou sucessos, como “Segura a Nega”, “Nega Olívia”, “A Beleza É Você, Menina”, entre outras. Em 2005, lançou seu primeiro e único DVD “Pra balançar”, onde além de relembrar seus sucessos e resgatar “Na corda bamba” (rebatizada de “Caramba”), do disco “Cheio de razão”, ele conta com a participação especial de artistas como Zeca Baleiro, Zélia Duncan, Seu Jorge e Davi Moraes.

CLUBE DO BALANÇO

O grupo Clube do Balanço se formou em 1999 por iniciativa do paulistano Marco Mattoli, então empenhado em retomar a boa linhagem do samba-rock de Jorge Ben, Bebeto e Branca di Neve. A empreitada foi um sucesso em todos os sentidos. Desde então, o grupo, formado por Mattolli, Tereza Gama, Fred Prince, Léo “Gringo” Pirrongelli, Edu “Peixe” Salmaso, Tiquinho, Marcelo Maita e Reginaldo “16” Gomes, lançou dois discos – Swing & Samba Rock e Samba Incrementado , ambos muito bem recebidos pela crítica e pelo público –, excursionou pelo Brasil e pelo exterior e se tornou uma das principais referências do novo samba-rock brasileiro.

PAQÜERA E CHAPINHA

O paulista Paqüera e o cearense Chapinha viram seus caminhos se cruzarem em São Paulo, ainda nos anos 70. Foi na tradicional escola de samba da Vai-Vai que os dois, compositores de mão cheia, ficaram amigos. Mais tarde, em 2000, junto aos jovens Magnu e Maurílio, integrantes do Quinteto em Branco e Preto, fundaram o Samba da Vela, projeto comunitário da Zona Sul Paulistana que se tornou um modelo nacional para as iniciativas de renovação do samba tradicional.

CELSO VIÁFORA

Celso Viáfora, cantor e compositor paulistano, começou a atuar como músico no fim da década de 70, participando de festivais e fazendo parte da geração irreverente que ficou conhecida como Vanguarda Paulistana. Tocou em bares e casas noturnas do circuito alternativo de São Paulo e Rio, e ganhou um prêmio de melhor arranjo no Festival Internacional de Viña del Mar, no Chile, com a música “Grão da Terra” (com Amílson Godoi). Em 1992 lançou o primeiro disco solo, “Celso Viáfora”, alcançando algum sucesso fora do eixo Rio-São Paulo. Quatro anos mais tarde lançou “Paixão Candeeira”, com que conseguiu mais espaço na mídia.

SEU CARLÃO DO PERUCHE

O veterano sambista Seu Carlão do Peruche é um dos últimos remanescentes do período de formação do samba paulista. Em sua longa trajetória, freqüentou os batuques dos dias de festa religiosa em Pirapora do Bom Jesus , participou de diversas agremiações do carnaval de rua paulistano, inclusive da Lavapés, uma das pioneiras de São Paulo, até que, em 1956, fundou a Unidos do Peruche, rapidamente alçada à condição de referência do carnaval da cidade. Em reconhecimento à sua dedicação ao samba, Seu Carlão já foi agraciado com a honraria maior do samba paulista, o título de “Cidadão Samba”, em 2000.

SAMBA DE RODA DE PIRAPORA

O grupo folclórico Samba de Roda de Pirapora é herdeiro direto da antiga tradição de samba-rural de Bom Jesus de Pirapora, surgida entre os romeiros negros e mestiços que freqüentavam a cidade nos dias de celebração religiosa. Sua arte se concentra no samba-de-bumbo, manifestação tipicamente paulista que teve seu auge nas primeiras décadas do século passado. Hoje, o grupo faz parte do grande esforço da cidade para reerguer sua tradição cultural.

Veja mais fotos do evento: www.paulalyn.com.br/pauliceia

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